Wednesday, June 1, 2011

Um dia tudo ficará por baixo das vozes do universo. Mas o que há por baixo das vozes do universo se não vozes? O que será tudo senão voz que se apresenta desta ou determinada maneira, ora humano, ora rocha à beira mar, ou mera poeira? O que será cada coisa se não uma aparição de algo que não sabemos o que é, que desconhecemos? E ainda isso é uma voz.

Talvez só exista o mundo como o conhecemos, mas não carece de explicação? Talvez nunca consigamos lá chegar, talvez não seja tarefa nossa interrogarmo-nos tão profundamente, ou talvez a resposta esteja bem longe do que as que encontrámos até agora, que são todas, embora nenhuma satisfaça. Temos de postular alguma coisa inicial não-criada, que existisse desde todo o sempre, mas o curioso é que isso pode ser o próprio mundo, o universo. Não um ente particular como uma pessoa ou uma pedra, que nasce e morre, mas algo incontingente. Mas até o universo é um ente particular, com determinadas características que o essencializam, embora seja talvez irrepetível.

A estrutura do tempo obriga a essa irrepetibilidade. Ou talvez não. Pode dar-se o caso de o universo se destruir e reconstruir como assim crêem os hindus e, se imaginarmos o caso em que se reconstrói ao infinito, seria provável que um mundo igual ao nosso voltasse a existir, e o mesmo se diz para o passado. Mas da sua probabilidade não se segue a sua existência nem, portanto, que seja verdade que um mundo igual ao nosso já existiu ou existirá.

No comments:

Post a Comment