Tuesday, June 7, 2011

Se fosse poeta, escrever-te-ia. Literalmente, escreveria o teu ser. Porque ler-te é também tocar-te. Como o não sou, beijo-te para que faças de mim poesia.

Sunday, June 5, 2011

Quando a noite escura cai em todos os lugares, e os corpos se fundem na imensidão, é o movimento do tempo... O universo resplandece na nocturna aurora, os amantes viajam unidos em sempres, esvoaçam; sonham para lá do firmamento, oh nas doces obscurecidas asas do momento, em deleite, cantam o cântico da vida, inebriam-se um do outro.
Lançaram-se no infinito e caíram nos abismos de quem percorre mundos com as mãos, com o olhar, dos espaços mais fundos e do mais sem fundo espaço, vento, rebolaram na casa do tempo, fundiram-se lá além, longe, no firmamento, embriagados pelo rubro vinho do amor, pela noite levados, a ritmo lento e forte e desnorte, tornaram-se vento, abraçaram o mundo, de tudo fizeram alumiando, e sendo o que eram, balanço, desejando, caminharam-se, perscrutaram-se, em intrépido movimento, vão para lá do momento, um só elemento nos abismos de quem percorre mundos com as mãos.
Pousamos os pés sobre a areia quente e extensa, o vasto atlântico ante nós, nas suas imensidões frias e geladas. Quentes caminhamos para o mar, tocamos e sentamo-nos na areia molhada, que nos sustenta como os deuses sustentam os sonhos. Nas veredas por entre a luz e a escuridão, onde os universos se fundem, funde-se a areia com o mar, fundo e escuro a que desavesso me entrego, sem avesso, sem inverso, e busco explorando faróis, cometas, perdidos para lá do sempre dos tempos, entre brisas e ventos, lá onde vive o fogo dos sonhos reluzentes, renascimentos.

Saturday, June 4, 2011

Ter-te, tocar-te, num sítio desertos.
Beijar os teus lábios como quem beija o amanhecer.
Mapear o teu corpo como quem mapeia o mundo.
Liberta sempre a mente que há em ti.
Se semeias caos, espera caos. Mas se semeares paz, não esperes paz.
Há tanta coisa tão preciosa que não sabemos qual é a mais preciosa.
Porquê escrever?
Por baixo das vozes do universo, existe vento. Temporais éonicos, ora sussurram, ora gritam, falam, fodem, oram. Um vento sem tempo que circula comandado pelos prazeres e desprazeres do humano. Existem vozes. Em nós, as vozes de todos aqueles com que algum dia nos cruzámos, de tudo o que vimos, de tudo a que a consciência acedeu. Ao vento estamos, levados, pelo vento vamos, dialogamos, perguntamos, se ele viu, se sabe, onde anda a felicidade.

Friday, June 3, 2011

asas
de amar
grandes como o mundo
imensas.

amo
as tuas
asas de amar.
O texto é uma arma poderosíssima. Não só porque se propaga no espaço, tempo e pessoas, mas porque contém uma ideia. E as ideias infiltram-se na nossa mente como vírus. O texto é essa arma, porque veicula significado. A leitura de um texto pode mudar as nossas vidas, levar-nos a tomar escolhas diferentes, parar para pensar, ganhar uma perspectiva diferente sobre um assunto.

Por exemplo, os mass media passam constantemente as mesmas caras e pessoas, o que unifica. Temos medo de estarmos desunificados. O poder do estado e da igreja são esses: unem. E unem com base exclusivamente nesse medo. O medo de que se não existissem figuras unificadoras a sociedade colapsaria.

E a história tem de fazer sentido. Há em todos os tempos figuras de maior relevo, porque faz parte do sentido da história e principalmente do modo como o mundo é, não se prezando à igualdade total. A maioria das pessoas tem até aversão por esta ideia.

E tudo isto anda por baixo das vozes do universo.
E nem mais nem menos do que animais de acção, somo-lo também de reacção. Agimos quando escolhemos livremente fazê-lo, e reagimos quando a nossa escolha é limitada por um estímulo. Talvez nem haja escolha na reacção, embora saibamos que tantas vezes a há.

O humano é um animal de escolhas. Do branco e do preto. É também alguém que se deixa levar pelo fluxo do que o rodeia; nem sempre escolhemos conscientemente. O que não significa que estejamos sempre a escolher. O humano é dos contrários e é do que está no meio. Opiniões, todas as há, como todo o tipo de escolhas no mundo, e uma panóplia de ideias e personalidades.

O mundo é louco por fora e por dentro. Temos medo do que aconteceria se essa loucura pudesse andar aí livremente. Eu próprio tenho. Teria de haver uma grande consciência. Não poderiam existir ódios. Seja como for, o mundo molda-se às poucas vontades de uns. Em última instância à vontade de um. Que pode ou não ser contrariada. Mas quem contraria alguém mais poderoso pode acabar esmagado como um mosquito. E que ideia mais poderosa há na nossa sociedade do que a de democracia? Que slogan mais usado?

Passemos a usar o da injustiça, mas não creiamos em mais gurus. Não só o mundo é duro, porque cais e dói, como a sociedade, o humano, é duro, porque cais e não te ampara. Resta saber como se amparariam essas quedas sem um estado. É preciso sempre um governo, nem que seja um governo local. A menos que se queira o caos geral, mas se lanças caos, espera que caia caos sobre ti. E o caos não é bom. A insegurança não é boa. Em caos, corre-se sempre risco de vida - cenário distópico. Talvez na distopia cada um deva defender-se a si mesmo. Ou talvez os grandes governos, estados, países, sejam uma evolução natural dos governos pequenos e locais. Com os seus grupos de cidadãos, cada um com uma certa função, ampliado a mil. E num mundo onde ninguém se conhece são necessárias estruturas. E as estruturas são impessoais. Pergunta-se o que seríamos num mundo com o mínimo de estruturas.

Animais de acção

Ninguém deveria querer legislar para ninguém. Mas vemos que isso se torna logo impossível quando vemos alguém a causar sofrimento a si mesmo ou a outrém. Pelo contrário, o ser humano tem que ser interventivo. As nossas características obrigam à acção e a escolhas. E as do mundo. O humano não pode ficar indiferente ao que o rodeia, não por escolher não ficar indiferente, mas porque não pode escolher ficar indiferente. Somos por natureza animais de acção.

Thursday, June 2, 2011

É também um mundo de sombras; nele vemos as sombras das luzes por entre a escuridão que nele existe, ou melhor, vemos as sombras da escuridão, e os restos ou todos de nós que existem no fundo dessa escuridão. Há nele lugares mais superficiais, mais à superfície, há o domínio da mais profunda escuridão, como no fundo do mais fundo mar, mas tem sempre que existir um farol. A vida tem algo de precioso, como todos sabemos, embora, dentro desta, o coração contenha as mais resplandecentes preciosidades, como a mais obscura treva.
O coração move o mundo porque cada um de nós se move pelo seu próprio coração. Expandindo-o e tentando preservar o que de mais sagrado há para si. Sendo isso o que de melhor há no mundo - guiarmo-nos pelo nosso próprio coração -, nunca deveria ser restringido. Mas o coração, porquanto é fofinho, não deixa também de ser um lugar escuro e labiríntico. Nele habitam essencialmente a luz e a escuridão. Tem o acender e o apagar de luzes, tem faróis e chamas inextinguíveis.
Tudo isso fica por baixo das vozes do universo, sob o domínio da verdade. A verdade está bem dentro dos nossos corações. O coração contém em si a mais importante verdade do mundo, a do que foi e a do que aconteceu, e a do que verdadeiramente se sente. E os outros ficam enterrados em lugares tão obscuros de nós, pairando nos nossos sonhos, mas sempre parte de nós, como que fantasmas que no fundo habitam. O coração é um lugar fundo, cheio de amor, desejo, desgosto, de não-dito e de vivência e memória de tudo. Contém as pedras mais preciosas que existem.
É tão grande o que fica por dizer nesta vida. Esse é o maior silêncio. O que fica por amar. Esse é um silêncio ainda maior.

Fluxo

O mundo tende para a materialização do espírito, e para a espiritualização da matéria, para a acção dos seres no mundo, e para a memória, onde há mentes com memória. O futuro tende a materializar-se, e de presente que é quando materializado, presente lembrado, já não material. O mundo tende ao mesmo tempo para o passado e para o futuro. Porque o presente não é se não a transformação do futuro em presente em passado, do futuro em passado, portanto, passando pelo presente. O mundo tende a transformar-se e transformar-se é isso, e o mundo é essa mistura. Mas talvez só o movimento elimine a verdade de estarmos parados no tempo. Sem a mudança, sem o movimento, o tempo seria imperceptível.

Não sabemos se a própria consciência estaria sequer apta a começar a pensar se existisse desde sempre num mundo ausente de estímulos. Teria a noção do tempo? E será que teria consciência de si? E se tivesse consciência de si e de nada mais, teria consciência do tempo? O tempo é básico na estrutura da consciência? O tempo é isto que passa. Será que quando estamos a olhar para uma árvore ao vento estamos a olhar para tempo? O tempo é um elemento básico na estrutura das coisas? A consciência e as coisas têm os mesmos elementos básicos? Poderá haver um elemento básico da estrutura da realidade - se esta a tem -, como se pudéssemos defender com verdade um monismo? Claro que a ideia da divisão é clássica de um mundo tripartido: a causa do mundo (diferente dele), e o mundo, dividido em corpo e espírito. Mas talvez haja apenas um fluxo, e a divisão seja de todo errada. Um único fluxo desde sempre e para sempre, eterno e infinito, mas um fluxo, do qual participamos.
A materialização, a transformação do espírito em matéria. ex. arte, indústria, engenharia... tudo o que envolve uma ideia que transforma o mundo. ex. um pedaço de pedras numa casa.

A espiritualização, a transformação da matéria em espírito. ex. memória.

O enlace de ambos, espírito e matéria

O mais importante que há é a interioridade. Sem interioridade ninguém é alguém. Temos de ter miolos. Mas isto é uma coisa tão vasta, porque ter miolos pode até siginificar ter espírito, ter emoção, não o espírito vácuo das religiões, mas o espírito repleto de fogos de artifício que não queimam se não a obscuridade em redor de um todo endiabrado e festivo. Portanto, a interioridade não é coisa parada e insípida, a menos que se findem os fogos de artíficio, que não deixam porém de ser artificiais. Conta o espírito orientado para a acção. Temos de nos rebelar contra alguma coisa, não podemos estar alheios a tudo. E talvez seja contra essa própria artificialidade que vive no espírito e o embasbaca, a favor de uma maior realidade e realização do espírito, porque queremos as coisas na realidade. Ninguém quer viver fechado no seu próprio espírito. Este, ou a pessoa, tende já para fora, para se realizar desta ou daquela maneira, realizando, concretizando, o seu espírito, através das acções que toma de acordo com aquele. Mas há pouca realização do espírito, estamos muito ocupados. A realização do espírito não pode ter gurus, porque é a total realização do espírito de cada um. Isso é a transformação do espírito em matéria. A matéria também se transforma em espírito na memória. E no presente há o enlace de ambos, espírito e matéria.

Serpenteando

Peles que despimos, peles que vestimos, encostados à parede da vida.

Trazer a ideia

Mas existirão um mundo só do corpo e um mundo só do espírito, ou a mente é que os divide, quando na verdade existe um só mundo, que é uma mistura de propriedades diferentes, como ser corpo ou ser espírito? E qual o interesse de um mundo só do espírito? Embora um mundo em que o espírito se realize na terra seja interessantíssimo. A concretização do espírito é provavelmente aquilo a que se chama realização. Trazer a ideia ao mundo.

Corpo e espírito

O ideal é também algo que vive por baixo das vozes do universo, nas travessas e cantos escuros na noite das ruas, até que se se realiza muda o mundo por completo. Há uma introspecção do mundo, uma compreensão, uma tomada de ponto de vista, e uma mudança vinda do silêncio ruidoso do interior humano, que afecta o mundo físico. Estamos muito dependentes do mesmo. E não podemos afirmar que somos essencialmente físicos, dado que somos também espírito. Nem podemos afirmar que o corpo sustenta o espírito nem vice-versa. Podemos afirmar que se influenciam mutuamente. Mas em ambos há leis que não podemos quebrar, como se tivesse já sido legislado para o corpo e para o espírito, como em se não comes morres, para o corpo, e não (se não comes morres e não morres), para o espírito. Há mundos impossíveis até na nossa imaginação. E um mundo como o nosso, connosco, está logo privado pelas leis do corpo. A possibilidade lógica é limitada pela possibilidade física. O espírito pode perder-se em deambulações que, num mundo como o nosso, é limitado pelo corpo, como se este tivesse mais poder.

Como é um mundo melhor?

Qual será a melhor forma de governo para o homem? Certamente que não queremos ser agredidos nem por polícia, nem por criminosos. O ideal seria a ausência de crime, caso em que não precisaríamos da polícia, e um cenário que se vislumbra imposssível... o problema da ausência de governo é que viveríamos no mais puro dos liberalismos, que podiam até resultar na escravidão... quer dizer, a ausência de estado pode levar a que se formem outros estados, talvez dado o instinto gregário, ou apenas a consciência de que juntos somos mais fortes, embora quantos menos melhor. Talvez seja essa a diferença entre o espírito do liberalismo e o do comunismo, porque enquanto o primeiro defende o quanto menos melhor, o outro defende o quanto mais melhor. O primeiro defende a maior ausência de participação na res publica, que nesse caso nem sequer existe, porque é tudo privado e todos são privados ora pela força, ora pela inteligência, ou por ambas, e o segundo defende a maior participação, mas tem estado na mesma, ou sindicatos, tem obrigações ante o outro, nomeadamente obrigações laborais. E esse não é o ideal. O ideal é a ausência de obrigação. A livre escolha implica poder escolher a ausência de obrigações ante os outros. O mais próximo do ideal é o mínimo de obrigações ante o outro. Mas um mundo bom é um mundo onde não há fome. Não existe um mundo bom; embora nos caiba melhorá-lo - mas como é um mundo melhor?

Wednesday, June 1, 2011

Um dia tudo ficará por baixo das vozes do universo. Mas o que há por baixo das vozes do universo se não vozes? O que será tudo senão voz que se apresenta desta ou determinada maneira, ora humano, ora rocha à beira mar, ou mera poeira? O que será cada coisa se não uma aparição de algo que não sabemos o que é, que desconhecemos? E ainda isso é uma voz.

Talvez só exista o mundo como o conhecemos, mas não carece de explicação? Talvez nunca consigamos lá chegar, talvez não seja tarefa nossa interrogarmo-nos tão profundamente, ou talvez a resposta esteja bem longe do que as que encontrámos até agora, que são todas, embora nenhuma satisfaça. Temos de postular alguma coisa inicial não-criada, que existisse desde todo o sempre, mas o curioso é que isso pode ser o próprio mundo, o universo. Não um ente particular como uma pessoa ou uma pedra, que nasce e morre, mas algo incontingente. Mas até o universo é um ente particular, com determinadas características que o essencializam, embora seja talvez irrepetível.

A estrutura do tempo obriga a essa irrepetibilidade. Ou talvez não. Pode dar-se o caso de o universo se destruir e reconstruir como assim crêem os hindus e, se imaginarmos o caso em que se reconstrói ao infinito, seria provável que um mundo igual ao nosso voltasse a existir, e o mesmo se diz para o passado. Mas da sua probabilidade não se segue a sua existência nem, portanto, que seja verdade que um mundo igual ao nosso já existiu ou existirá.